sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vaccarini ganha documentário



Não foi o primeiro, não será o último a se apaixonar por um homem das artes. Mas levou o encantamento adiante. O jornalista Hossame Nakamura, que se fascinou pela vida e obra do artista plástico Bassano Vaccarini (1914-2002) ainda no início da faculdade, em 1996, está finalizando o documentário Todas Dimensões de Bassano Vaccarini - Dentro de Um Realismo Mágico.

O vídeo aborda a produção de Vaccarini até a sua morte, em 2002, a partir de depoimentos e arquivos de parentes e amigos. Há imagens que o próprio artista gravou, brincando com uma câmera, quando a saúde já estava abalada pelo Alzheimer.

O italiano Vaccarini deixou a Itália em 1946 para realizar uma exposição com outros compatriotas no Brasil. Acabou ficando em São Paulo, onde integrou a primeira geração de cenógrafos do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e o corpo docente da FAU/USP. Transferiu-se em 1956 para Ribeirão Preto, cidade que já conhecia de um postal recebido na Itália. A mudança partiur de um convite do prefeito Costábile Romano para produzir obras em comemoração ao centenário do município.

No interior, chegou a fundar o curso de artes plásticas na Unaerp, instituição que mantém obras dele espalhadas pelo campus. Foi por meio delas que Hossame se interessou pelo artista e quis retratá-lo em seu trabalho de fotografia, no curso de Jornalismo, há mais de dez anos. “Não sei por que encanei nele, acho que por ter sido uma pessoa bonita, generosa, ética”, diz o diretor.

Vaccarini mal falava, se comunicava com o estudante com movimentos e expressões faciais.

Hossame desengavetou a ideia do documentário no início do ano, ao ser selecionado por um edital da prefeitura de Ribeirão, que destinou R$ 20 mil ao projeto. Ele contou com a produção de Fernanda Marx e Alessandra Amantea. Segundo o jornalista, a Secretaria Municipal de Cultura ainda não comunicou a data de estréia. Posteriormente, o material será exibido em escolas públicas do município.

Arte
Como a maioria dos artistas, Bassano tinha de dar aulas para sustentar a família. Pôde se dedicar integralmente à arte ao se aposentar em função de uma isquemia, no início da década de 80. “Apesar do problema de saúde, ficou feliz. Ele produzia intensamente.” De acordo com a crítica, não são as temáticas, mas a forma se sobressai nos trabalhos dele.

A família acredita que Vaccarini já tinha Alzheimer quando executou as famosas esculturas do parque Maurílio Biagi, em Ribeirão, em 1996. Em seguida ele se mudou para Altinópolis, onde fez praças e um teatro de arena, a partir de suas esculturas. “Ele trabalhava mais de 16 horas por dia.”

Posicionamento
Após a mudança para o interior, ele ainda era chamado para retornar ao teatro, na capital. Questionado pelo agitador cultural Fernando Kaxassa por que escolheu Ribeirão, ele encaminhava a resposta poeticamente. “Você, que gosta de cinema, sabe disso. É a luz daqui (que me cativou).”

Vaccarini era comunista engajado. “Tinha a postura de que o artista não deve viver apenas para a arte, mas para o social”, diz o diretor de teatro Magno Bucci. O historiador e escritor Julio Chiavennato e o artista plástico Dante Veloni também estão entre os entrevistados.

No documentário, há imagens de Vaccarini andando de bicicleta, próximo a uma obra, em Altinópolis. “Tenho 80 anos e me sinto criança; é sempre criança, sabendo a verdade”, dizia na gravação, feita em 1994.


Na primeira e na última imagens, Vaccarini fazia ainda alguns trabalhos, como a guache em que assina (fotos: Hossame Nakamura). Ao meio, Hossame, Fernanda e Alessandra, ao lado de uma obra exposta no pátio externo da Casa da Cultura, em Ribeirão Preto.

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