segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cães hipermodernos

 

Simei Morais

Não era mais o mesmo, nem eles. Ela se mudou primeiro, visitava-nos uma vez por mês - se estivesse de namoro, a cada trimestre.

Ela voltou, ele se foi. Tive problema grave de pele, exames, tomografias, injeções, pomadas. Nada de sol, que eu gostava tanto.

Sentia-me de novo um cão nos feriados prolongados, que país amado esse de longas sextas-feiras. Todos em casa, a mãe no fogão, eu na porta. Miolos de pão toda vez que me atrevia para dentro.

Aos domingos, porém, subiam manhãs de amargura. Segundo a segundo o relógio atraía a partida.





Fotos do britânico Martin Usborne na exposição MUTE: the silence of dogs in cars.
Usborne clicou cães sozinhos dentro de carros, enquanto seus donos se ocupavam em qualquer outro lugar. O aspecto melancólico não é à toa: o autor tentou identificar características humanas nos peludos.

O texto foi inspirado no comportamento de um cão próximo, muito próximo, durante a vida universitária de seus donos.

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