domingo, 27 de fevereiro de 2011

Brasólias, cinqüentona

Nunca tinha ido a Brasília, cidade que somente me interessava, de ouvir falar e ler sobre, pelos projetos arquitetônicos e urbanísticos. Semana passada fui para a capital federal fazer matéria sobre os ministros Palocci e Wagner Rossi e o deputado federal Duarte Nogueira, os ribeirão-pretanos no centro do poder (leia no jornal A Cidade). Eis aqui minha primeira impressão sobre essa jovem senhora de 50 anos.


Uma cidade feita para políticos
A palavra política, do grego politikós, origina-se no conceito das cidades-estado da Grécia Antiga, as chamadas pólis. Brasília, que em 21 de abril completa 50 anos de “inauguração”, surgiu de um movimento aparentemente inverso: a pólis para a política.


A transferência da capital federal do Rio de Janeiro para o planalto central havia sido lançada ainda no século 19, pelos republicanos, e entrou na primeira Constituição Federal de 1891. Foi em meio ao calor de um comício que Juscelino Kubtschek questionado por um ouvinte, assumiu de supetão enfim construir a sede do poder nacional.

O plano urbanístico de Brasília é invejável, principalmente pelo sistema viário e as áreas verdes e livres. Porém, como urbe, é totalmente diferente do que se costuma viver em cidades que foram surgindo à mercê das vontades e necessidades de seu próprio povo. Brasília é um ambiente fake, um Truman Show com seu cenário todo certinho e nada fora do lugar. Falta caos urbano, interferência humana na paisagem.

É toda limitada em um desenho de avião - ou de águia, como quiser. Quem está fora quer entrar e quem está dentro luta para não sair. Tanto no âmbito das instituições quanto no próprio espaço imobiliário, que apresenta valores altíssimos. Um apartamento de um dormitório em uma das asas (Norte ou Sul) custa R$ 3.500 o aluguel.

Como todo espetáculo, Brasília também tem seus atos cronometrados. É no meio da semana que ocorrem os atos principais, quando chega o público para o qual a cidade foi erigida. Tudo se volta para os políticos e seus adjacentes, todos os serviços, dos ortodoxos aos mais informais. Na terça-feira à noite, quando sindicalistas chegavam aos hotéis do Setor Hoteleiro Norte, as moças aguardavam nas portas e até nos saguões. Saíam todas no café da manhã.

Um assessor conta que, no final de 2008, quando o Congresso votou a PEC que aumentava o número de vagas nas Câmaras municipais de todo o país, as meretrizes tomaram a Câmara federal atrás dos edis em caravanas.

Na quinta-feira pela manhã, um lobbista saiu do elevador conversando com seu chefe, no Rio de Janeiro, por meio do Skype instalado no notebook. Estava empolgado com a reunião que tivera na noite anterior com políticos, assessores e um palestino que, pelo papo, deve ser uma espécie de investidor. O rapaz, na casa dos 40 anos, acertava com o carioca o valor e os recursos (possivelmente produção de cereais) que ofereceriam no próximo encontro. Um dos benefícios que tentava alcançar era a liberação da construção de um hotel numa capital do país, cuja obra estaria embargada. O chefe, com sotaque carioca, possui rede hoteleira.

Na sexta-feira, o avião concretado no planalto central se esvai. Seus passageiros embarcam para suas origens.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Novo álbum da PJ Harvey para audição

Que coisa! Eu jurava que ninguém vinha a esse blog sem as mensagens que mandava pro meu mailing particular (no ano passado) quando punha alguma coisa por aqui (comecei 2011 negligente). Mas não é que até esse tipo de incredulidade está se abalando?

Olha, agradeço muito aos bons de coração que rondam por aqui expontaneamente, sem as encheções de saco por e-mail. Ou então o medidor de visitas está desestabilizado.

Enfim, esse foi um nariz de cera.

O lead é que a PJ Harvey soltou o novo álbum na internet pra quem quiser ouvir - só ouvir, porque não sei se dá pra baixar. Se alguém já conseguiu um link com o disco, por favor, queira se manifestar. Grata. Aqui o link pra ouvir, ó.

Ela já havia liberdao uns clipes das novas músicas, como esse:

Vai dormir, filhinha

Foto: Mark Pain

Adão falava assim no tête-à-tête com Deus no paraíso? Peladão e tudo? Um dia eu falei assim com Ele também? Eu mesma, tem certeza? Mas disse isso mesmo que eu costumo dizer hoje pra ele? E como é que ele reagia, hein? Porque hoje, que eu sei, ou percebo, ou penso que é, ele me ouve, olha, sorri gatinho, tudo pacientemente. Às vezes, quando preciso, me aperta puxando fundo o cheiro do amaciante da roupa, de sorridentes olhos fechados e lábios laterais.

Mas o que será que ele pensa de mim? Porque o vejo sempre muito sereno. Mas alguma coisa ele deve achar. Claro, sempre besteira minha, que me preocupo com o que não deveria, dou importância ao que não se deve e me perco em mim mesma, isso é clichê, até eu sei. Mas e o que mais? Me acha engraçada? Besta demais? Vamos fazer uma sessão, Deus?

E os sacerdotes que entravam no santíssimo com a corda no pescoço, digo, na cintura, porque se desse pau eles morriam lá mesmo e os caras tinham de arrastar o presunto pra fora? Mas e eu também entraria nisso? Ai, meu Deus, me pula dessa parte do Velho Testamento, por favor, que não entendo muito. Tô precisando viver mais – e bem- esse meu atual. É isso, né? O rei mais sábio dos nossos antepassados é que dizia que é preciso saber viver. Essa história do Roberto Carlos é toda firula, copydesk total do Salomão, todo mundo quer ser igual a ele – sábio, cheio de amor pra dar and receber, rico e poderoso. Mas o fato é que Salomão declarou que bom mesmo é viver o que se tem pra hoje, né mesmo? E ele tinha 700 mulheres mais 300 concubinas, coisa pra muitos dias. Devia aproveitar cada uma como se fosse a última, eita felicidade.

E os índios, hein? Eles também ficavam pelados. O que isso tem a ver com Adão? Tamo junto e misturado?