quarta-feira, 6 de julho de 2011

Musa da Flip com propriedade

E aqui segue ligeira entrevista por e-mai com a argentina Pola Oloixarac, que lança As Teorias Selvagens nesta Flip.

Enviei e-mail à escritora na semana passada, mas me respondeu apenas agora porque estava em viagem ao Brasil. Por causa do vulcão chileno que escureceu o espaço aéreo da Patagônia, ela foi de Bariloche a Buenos Aires de ônibus, num caminho longo de quase 20 horas em que diz ter apreciado cenas do século 19.

Minha ideia inicial era inserir um comentário dela sobre sua participação na Flip em uma matéria que saiu no último domingo no jornal em que trabalho. Não deu tempo, então posto as respostas da mui cortês Pola.

Estou em viagem, desculpa para não escrever muito, mas deixar como referência um ótimo texto da Raquel Cozer, no Estadão, em que fica claro por que Pola é, além de musa dessa Flip, um nome comentado no meio literário.

Em tempo: ainda não li nada produzido por Pola, uma pena. Por isso as perguntas, apesar de breves, são tão superficiais. Escusas.


Los escritores contemporáneos brasileños se encuentran en una controversia que algunos críticos empezaran – ellos dijeran que nada de nuevo ocorre en la literatura del país. ¿Como es la relación de la crítica con los jovenes y contemporáneos escritores argentinos?
Los criticos se quejan siempre... es su trabajo! En Argentina hay muchos jóvenes publicando, y como los mismos escritores suelen ser críticos o editores, además de amigos entre sí, eso promueve bastante la circulación. Es algo muy reciente: para darte un ejemplo, hace cuatro años salía un artículo en el diario acerca de la "literatura joven"... con escritores de 50 años! De pronto todo eso cambió. La literatura funciona un poco en la lógica de la patota, grupos ambiciosos que van imponiéndose. Lo que decís lo vi ocurrir en España también, es una polémica similar. Mi sugerencia sería que infiltren agentes propios en el establishment... 

Su presencia es muy esperada sobre todo por los hombres. No lo importan si el italiano Tabucchi no viene, pero sí si usted viene. ¿Lo que piensa sobre eso? ¿Te importa ser la sensacion de la fiesta?
hahahah los brasileros son tan locos y encantadores... pero ahora que lo dices, será por eso que el Tabucchi canceló sua vinda? 

¿Em qué piensas mientras se prepara para hacer frente a tantas horas en la carretera, por el volcán?
 Por suerte la carretera ya pasó! Y fue lindo, muy siglo XIX: sin internet, solo descansando y leyendo,con el teleofno apagado, la verdad que lo disfruté!

domingo, 3 de julho de 2011

Loyolão só na criação

André Brandão

E o Loyola, minha gente? Pura gentileza. Também respondeu por e-mail para a mesma materinha em que pincelei o Valter Hugo Mãe. E das respostas dele ficou um reforço na certeza que eu já possuía: a mesa dele com o Antonio Tabucchi dificilmente será superada pela nova montagem. Nada contra o Contardo Calligaris, que substitui o conterrâneo, mas Loyola e Tabucchi têm uma história juntos e esse fato já dispara à frente, nas interessâncias.
Mais uma vez, agora graças ao STF e ao governo brasileiro que acolheram Cesare Battisti, ficamos sem Tabucchi.
Eis o Loyola, que ainda torpedeia qualquer menção de embate entre crítica e autores: “que criem.”

O sr. já participou de muitos eventos de literatura, inclusive aqui em Ribeirão. Como se prepara para cada um deles? Para a Flip há alguma orientação da organização ou alguma preocupação específica sua? Teve de reformular sua “preparação” após a desistência do Antonio Tabucchi?

Escolho o tema que pretendo abordar, pesquiso, penso, converso com amigos chegados e deixo o resto por conta do momento, porque quando se sobe no palco as vezes tudo muda. Adoro os improvisos.
Em relação à Flip, não existem orientações especificas, eles sabem que estão convidando profissionais com experiência e longo trajeto.
Claro que tenho de reformular minha participação. Não posso conversar com Contardo o que eu ia conversar com Tabucchi. O titulo da mesa será Ficções da Crônica. Nesta mesa, seremos dois com um mediador a nos ligar. Significa que seremos entrevistados. Sou um romancista que se tornou cronista. Contardo é um cronista que se transformou em romancista. Vai ser tudo na hora, vamos ver.

O sr. poderia comentar o que gostaria de indagar ao Tabucchi, por favor? E com o Contardo, por que lugares sua conversa deve prosseguir?
Falaria um pouco de nosso período na  Toscana, enquanto ele traduzia Zero o dia todo, depois saíamos de bicicleta a passear pelos campos e vinhedos, parando para tomar vinho, ou comer presuntos da montanha, salames, etc. Dos jogos de futebol que víamos pela TV. Dos almoços no restaurante de um amigo dele e que era localizado na sede do Partido Comunista de Vecchiano, onde ele mora, quando na Itália. Depois conversaria sobre a carreira dele, sobre Fernando Pessoa, em quem ele a sua mulher, Maria José, são especialistas, a sua fixação no tema ‘o tempo’, o cinema, etc. E claro, ia perguntar sobre Berlusconi, os novos autores italianos e o cinema italiano atual. Teríamos tempo?

Em maio de 2007, quando esteve na Feira do Livro de Ribeirão, toda sua participação foi sobre o processo em que escreveu “Não verás país nenhum” e a contemporaneidade do livro. É o trabalho que tem maior apelo do público, nesses eventos?
Falei de Não Verás naquele momento porque o livro comemorava 25 anos de existência e se mostrava mais atual. Cada momento é momento de um livro. Veia Bailarina entra muito em órbita, bem como O Anônimo Célebre. Agora, me perguntam muito sobre minha literatura infantil com O Menino que Vendia Palavras e O Menino que Perguntava. Felizmente tenho nada menos de 36 livrosa, a variedade é grande.

Que mesa(s) o sr. gostaria de assistir nessa Flip?
Vou ver o máximo, mas não quero perder Ellroy, nem a argentina de nome esquisito, nem o Neuman, nem o Zé Celso. Como tenho crachá, posso entrar em todas e, se me chatear, me vou.

Recentemente houve uma certa polêmica após os críticos Alcir Pécora e Beatriz Resende afirmarem que nada de novo acontece, na literatura brasileira. O comentário procede? Isso  jogou mais luz para a vitrine dos novos autores, de alguma forma? Acha que essas controvérsias ecoam em eventos do porte como a Flip ou ficam apenas para as conversas de bar?
Não entro nessas de críticos e panoramas e polêmicas desse gênero. Minha vida é criar, que todos criem. Os ensaístas e terceiros é que ficam espevitados, levantando esses debates. Caio fora dessas. Que falem o que quiserem e me deixem em paz. Ou deixem os outros em paz.

Seus putos

E no seu blog Ossos do Ofídio, Marcelino conta um pouco de como ele e Valter Hugo Mãe se conheceram.
Marcelino já tinha visto ouro no Mãe há mais tempo. Leia aqui, ó.

Bárbaro angolano


(Não sei de quem é a foto. Por favor, seu dono da foto, se pronuncie. Ou quem souber. Obrigada.)

Já gostei bastante de muitos autores, muito de alguns. E me surpreendi efusivamente com esse aqui, Valter Hugo Mãe. Li seu o remorso de baltazar serapião assim que saiu no Brasil e, já era, arrebatou-me. Quando soube que viria à Flip, puxa, excitei-me.
O angolano residente em Portugal destrói. E monta uma nova língua, outra narrativa. Agora ele vai lançar por aqui a máquina de fazer espanhóis.
Muito gentil, respondeu a perguntas que enviei por e-mail para uma materinha sobre a Flip, que saiu hoje no jornal em que trabalho.
Posto as respostas integralmente, porque, pena, não deu pra pôr tudo, jornal tem dessas coisas. Aqui ele comenta sua escrita, a amizade com os brasileiros Marcelino Freire e João Paulo Cuenca, a expectativa por Lourenço Mutarelli e uma curiosidade minha sobre os Sarga, a família de o remorso....
E que engraçado. Ele diz ter sido coincidência, mas aconteceu. Enviei dois e-mails. O primeiro, no padrão de caixas altas e baixas. O segundo, em minúsculas, como ele escreve. Foi a esse que ele respondeu.  
uma das recentes polêmicas no meio literário, no brasil, iniciou-se com o comentário de alguns críticos sobre autores contemporâneos. eles afirmam que “nada ocorre de novo”, o que pôs fogo na outra parte. como tem sido a relação da crítica com os escritores contemporâneos, em portugal?
A relação com a crítica é sempre um pouco cínica, e creio que não haverá cura para isso. É certo que a geração a que pertenço em Portugal tem sido muito acarinhada e até já acusada de ser excepcional, dada a diversidade e qualidade. Eu não teria - não tenho - nada por que me queixar. Tenho ouvido muito essa coisa de os novos autores brasileiros não trazerem algo de novo. Não tenho uma leitura de perto, do todo, mas gosto muito de alguns autores, como Marcelino Freire ou Bernardo Carvalho, que serão dois nomes muito presentes, muito actuais e muito diferentes um do outro. Como dizer que não trazem nada de novo? A mim parecem-me muito novos. Alguém me explica? E o Mutarelli?

li em algum lugar um comentário seu de que em portugal os jovens escritores não se comungam nem fazem turmas, como no brasil. na flip, haverá vários deles com seus amigos. espera ser incorporado prontamente em alguma roda, quando chegar a paraty? já foi abordado por alguém do meio ao menos por e-mail, como primeiro contato?
Não espero entrar em rodas. Quero muito que as pessoas me aceitem como sou e que se disponham a uma relação livre, sincera. Eu conheço pessoalmente uns poucos escritores brasileiros por quem estou desenvolvendo algum carinho. Marcelino é um deles. Encontrei já João Paulo Cuenca e ele foi sempre muito atento comigo e creio que viramos admiradores um do outro. Eu não sei se Cuenca e Marcelino são sequer amigos, mas gostaria de acreditar que mesmo não o sendo possam seguir tendo por mim o cuidado que tenho com eles e essa sincera admiração. Agora, se me quiserem comprar, assumo que tenho alguns heróis por aí aos quais me rendo, como Rubem Fonseca ou João Ubaldo Ribeiro. Podem subornar-me com eles, que eu deixo. Ah, e vou maravilhado com a oportunidade de conhecer pessoalmente o Lourenço Mutarelli e agradecer seriamente pela capa e orelha linda que fez para o meu livro. E parabenizá-lo por ser um escritor/artista fantástico.

continua com o mesmo estilo e o mesmo ritmo de o remorso... nos seus novos trabalhos? a quem mostrou aquele texto de o remorso... pela primeira vez? sabia que aquilo teria algum tipo de impacto entre os leitores lusófonos? imaginava o que? foi proposital?
Não. Tenho muito medo de criar fórmulas às quais me renda para sempre. Pelo que o estilo meio medieval desse livro ficou ali. Claro que alguns tiques serão meus, como algo que não posso recusar porque faz parte da minha assinatura criativa. Mas, por exemplo, «a máquina de fazer espanhóis», que a Cosac Naify está publicando para a FLIP, tem um ritmo diferente e a linguagem não se deturpa daquele mesmo modo. A linguagem é um pouco mais linear, embora sempre com algum fascínio pela busca de uma certa expressão poética.
Tive algum receio do livro porque temi a sua violência. Mas creio que as mulheres não tiveram nunca redenção e é preciso que o macho estúpido seja absolutamente flagrado e erradicado.
Procuro nunca criar grandes expectativas com o que faço. Porque o amor que desenvolvemos pelo que nos pertence pode cegar e pode não ser sedutor aos outros. Assim, prefiro sempre escrever como se estivesse sozinho no mundo. Depois, vivo a maravilha de perceber que existem pessoas e de algumas serem minhas leitoras. Fico incrivelmente contente com isso. E grato.

os sarga comem carne bovina? Você já teve uma vaca alguma vez?
Eu creio que, como bestiais que são, comem de tudo. E não. Nunca tive um animal tão grande. Tive três cães, um cágado e um esquilo. À morte de cada cão a tristeza era tão grande que desisti. Não podia mais. Pensei depois que um cágado seria mais seguro. Dificilmente morrem e não fogem do aquário. Contudo, o meu desapareceu. Nunca percebi como. E eu chorei outra vez de mais. O esquilo, morreu à fome. Armazenava a comida debaixo dos trapos na gaiola e vinha pedir sempre mais. Um dia, percebi que não comia de todo. Devia estar à espera do inverno para parar com a poupança. Numa manhã ficou de barriga ao ar. Burro, morreu literalmente de fome sobre um quilo da melhor semente de girassol.