domingo, 7 de novembro de 2010

Mathieu Bresson e seus pulos na fotografia


Simei Morais

Matheus Urenha, malabarista. Fotógrafo esteta, meticuloso nos detalhes da imagem, tem de se virar na agenda desequilibrada do fotojornalismo diário, nem sempre com recursos mais adequados. E do “vai, vai, vai, vai, vai” (vai5) das pautas, ele chega ao jornal com uns materiais lindos.

O aquário dos fotógrafos no A Cidade, em Ribeirão Preto, fica no caminho do antigo fumódromo, “interditado” para esses fins depois que uma bituca rebelde causou um pequeno incêndio. Há dois anos, eu fazia a curva nessa pista quando vi a foto acima aberta na tela de um computador.

Ele acabava de voltar do show do Gil no Theatro Pedro II, a dez passos da redação. “Acho que você tem futuro”, brinquei. “Gostou? O que achou”, era mais ou menos a pergunta com que ele retrucava para, timidamente, pedir mais comentários sobre o trabalho que acabava de descarregar. Sempre assim, como se o êxito o envergonhasse, não apenas nessa, mas em outras ocasiões.

Para essa foto, Matheus estava a dez metros de Gil, num camarote ao lado do palco. O primeiro ingrediente era o personagem, cuja presença de palco e personalidade artística dispensam apresentações.


Ma che bello
Ele usou teleobjetiva para aproximar e trabalhou no diafragma da máquina para uma leitura bacana da luz. A beleza estava ali, naquele momento. “(A beleza) ficou no gesto (de Gil), na luz, nele meio escondido, na sensação de estar ao lado dele”, responde.

Cálculo ou sorte? Ele prefere a versão de Cartier-Bresson de que as boas fotos são “instantes dados” (the given instant), contrariando os editores que apostavam no “the decisive moment”, como se houvesse controle total sobre a imagem. “Algumas coisas simplesmente acontecem, um detalhe da geometria que não se esperava, um olhar, um gesto que passou do instante mais evidente."

Ok, foi como Romeu e Julieta. Matheus curte muito fazer retrato, fotografar personagem, e o Gil já vem pronto. Mas o rapaz manda bem também no dia-a-dia, em factuais. Tem foto dele que parece pintura, como a da freira, abaixo, num dia de Corpus Christi, em Sertãozinho.

Eis, então, sua conduta. No hard news, diz ele, a briga é sempre por conciliar estética e informação. Mas sempre que pode, Matheus economiza a segunda para enriquecer a fotografia. “É uma discussão delicada, mas estética é a graça, não acha? A diferença não é a forma, afinal?”

Eu acho, Matheus. Por isso trouxe suas fotos aqui.



De cima para baixo:

Gilberto Gil no Theatro Pedro II, em Ribeirão Preto, em novembro de 2008;

Corpus Christi em Sertãozinho, 2007;

ao lado, o próprio Matheus Urenha.

Todas as fotos foram roubadas do facebook dele.


Update necessário:
O Cafffeinee é neófito, ainda. Quero postar aqui um texto sobre cada amigo meu que faz coisas inteligentes, de qualquer área, e isso inclui os demais fotógrafos com quem trabalhei. FLPiton, JFPimenta, WeberSian, Johnny "Luxo" Santos e Joba Cury, minha irmã do coração, têm cada um uma peculiaridade e alguma história que compartilhei. Meu desejo é fazer o mesmo com eles. E os da Foia também, como o Joel, que é mega. Piton, inclusive, fez umas fotos lindas do Gil em um Forró da Lua Cheia.

Comecei com o Matheus porque, sei lá, ele é meio ruivo, tem o parentesco (ha!). Em breve, outros amigos estarão por aqui. Aceito lembretes e sugestões. Obrigada =D

2 comentários:

  1. Matheus Urenha é um bom fotógrafo e, n'A Cidade, só fica atrás do Pimenta, do Piton e do Weber. ou não.
    Ainda assim, é meu amigo.

    Fora isso, ótima foto do Gil. E das madres brincando de Tetris na ruas de Sertãozinho. Coisa de quem tem mais de uma cor no olho (sem duplo sentido, pelamordedeus).

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  2. Maria Fernanda Rodrigues8 de novembro de 2010 às 20:28

    Matheus Urenha é um craque das lentes. As fotos realmente são maravilhosas. Sucesso é pouco. rs

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