sexta-feira, 8 de abril de 2011

Loucos soltos e a granel

Minha vontade de viver diminuiria um pouco mais se não acreditasse, negociando questionamentos, que a humanidade até tem sorte e, qual um vira-latas, segue vivendo como dá. Mais ainda em nossa cultura, redondamente definida na frase “não existe pecado ao sul do Equador”, de Chico Buarque.

A matança de Realengo é indício de como se deve ter a humildade de agradecer - cada um escolhe a quem- por esses fatos normalmente serem episódios isolados. Antes de criticar o péssimo sururu jornalístico e político que também nunca falta em cima de tragédias que rendem holofotes, pense bem que há muito mais gente com a mesma capacidade de matar a granel quanto Wellington Menezes de Oliveira. A única diferença é que a maioria de nossa gente, iletrada ou voluntariamente ignorante, desconhece ou finge não saber.

Só há certeza do conhecimento entre os comandantes. Todo mundo que chega a um tipo de poder sabe muito mais porque tem acesso, e privilegiado, às informações. E o que, não apenas agora, o comando geral deveria fazer com essa informação? Políticas públicas de saúde mental que abrangessem das necessidades básicas às superiores. Psicose, meu filho, tem a doidado. Gente delirante e suscetível a qualquer outro maluco, também. Não é à toa que os palanques políticos são tão cheios de figuras que, bem, você sabe.

O “contágio” da loucura existe e antes mesmo de descrito na Medicina já era abordado por Machado de Assis no conto O Anjo Rafael. Somada à incultura geral, a ignorância acerca da saúde mental é devastadora. Se há algum sinal de civilização que ande para frente, pode festejar porque estamos no lucro. (Simei Morais)

Originalmente publicado na coluna de Julio Chiavenato, na página A2 do A Cidade de hoje.

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