quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cera nostra

Antigamente, dava-se um jeito numa obra imperfeita preenchendo os defeitos com cera para vendê-la como arte. Apenas olhos treinados reconheciam uma peça autêntica, sem cera – daí a palavra “sincera”. Eis a natureza de um dos pilares da nossa política patropi, a cera.

Aqui o enceramento escorre desde as poltronas nacionais até os níveis alcaidessos – para matar a saudade do dono da coluna. Lembra-se dos lixões que A Cidade mostrou recentemente? Clandestinos, é verdade, mas tradicionalíssimos.

E o já famoso Mental, touro fujão que se exibia em rodeios na Vila Virgínia? Clandestinos, sim, mas já inseridos na programação local. Pois a fiscalização, os olhos da administração, passava ao largo desses tradicionais redutos. Somente depois de questionado o departamento avisa tomar conhecimento. Aí disparam informes da prefeitura anunciando que, puxa vida(!), a fiscalização vai plantar um homem em cada terreno para vigiar os lixões! Nada mais que cera para tampar buracos deixados por quem não fez o serviço que deveria ter feito.

Mas e por que não se encera logo, então, o lixão que se formou com os restos da favela Itápolis? Veja bem: ali a prefeitura quer montar uma área verde e isso implica em fazer, orçar, apresentar e licitar projeto. E sabe como é a velocidade dessas coisas. Então a Secretaria de Governo, os braços da prefeita, informa que todo o entulho que ora é moradia do Aedes aegipty será removido, sim. Não há um prazo, é verdade, mas quando isso acontecer, anote bem, todo mundo será chamado para filmar e fotografar. Com muita cera, que é para brilhar. (Simei Morais)


Originalmente oublicado na coluna do Julio Chiavenato, na página A2 do jornal A Cidade, em 07 de abril de 2011.

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