terça-feira, 26 de outubro de 2010

duo core

O vídeo é apenas trilha. Aperta o botãozinho e vai lá embaixo. Use o trocadilho, se preferir.



K. cuspiu, rangeu os dentes, desacomodou a mesa com um chute numa das pernas. Deu rodeios em segundos. Foi embora e voltou metros depois. Levou a mão firme ao lado do braço de S., que mantinha em gelo um aspecto de observação, constatação e alguma misericórdia não complacente, se é que isso é possível. Os olhos dela acompanhavam os dele, voláteis, para todos os lados, na direção dela.

Como se investigasse as fichas dele na memória, S. permanecia sentada, pernas descruzadas, o pé esquerdo atrás. O cotovelo esquerdo no braço da cadeira, o direito, na rebarba da mesa. Pediu uma cerveja pro garçom de sempre, com o cuidado de que estivesse mesmo abaixo de zero. Era momento de tomar os goles devagar, o líquido gélido descendo ao lado do peito. Pôs no copo dele, deitado, sem espuma, como gostam até hoje. Lúpulo denso, azeitando as narinas. K. bebeu.

Tomaram mais duas garrafas sem falar. Os olhos dele esmaecidos, os dedos largados na vertical, ao lado do corpo, repousaram no conforto oferecido pela mão dela. A outra mão foi ao rosto dele.

Num outro instante, anterior, ela se poria louca. Interromperia tudo o que fizesse para qualquer ato de expiação. Não se permitiria mais a dignidade.

S. firmou os olhos nos de K. e o puxou, pelo pescoço, para perto. Disse qualquer coisa. Estava ali. Passou a mão no cabelo dele, que a beijou e a recebeu no colo. Eram outros, acrescidos de subjetividade.

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